Junho é tempo de bandeirinhas no alto, milho na brasa e paçoca na mão. Mas por trás de cada quitute típico, existe o trabalho de milhares de produtores rurais. Neste São João, vamos celebrar também a força do agro que faz a festa acontecer.
Se tem uma época do ano que me emociona, é junho. A fogueira acesa, o cheiro de milho cozido, a risada solta nas quermesses… Tudo isso aquece o coração e reforça que não existe festa junina sem o agro!
É só olhar para a mesa: pamonha, canjica, bolo de milho, curau, paçoca, pé-de-moleque, pipoca, maçã do amor… A celebração é rural, é agrícola, é cultural. É a nossa cara.
O milho é rei — no arraiá e na lavoura
É impossível pensar em festa junina sem enaltecer o milho. Mas o que pouca gente se dá conta é da dimensão econômica e estratégica desse grão no Brasil.
Hoje, somos o segundo maior produtor mundial, com projeções de produção nacional superando 126 milhões de toneladas na safra 2024/25, segundo a Conab — um avanço de quase 10% em relação à temporada anterior, impulsionado pelo clima favorável e pelo crescimento das safras de verão e inverno. A segunda safra sozinha deve render quase 100 milhões de toneladas, e a colheita já começou em estados como Mato Grosso, Paraná e Maranhão.
Grande parte desse volume é destinado à nutrição animal, mas não podemos esquecer o papel fundamental do milho na nossa alimentação — especialmente nesta época do ano. Das pamonhas à canjica, ele é protagonista da mesa e da memória afetiva.
Eventos como a Fenamilho, por exemplo, em Minas Gerais, reforçam essa força simbólica e econômica: é mais do que uma celebração, é um ponto de encontro entre campo e cidade, onde produtores, indústrias e consumidores reconhecem o valor de toda uma cadeia produtiva.
Apesar da colheita promissora, os preços do milho seguem em queda desde abril, segundo o CEPEA. Em maio, o indicador ESALQ/BM&FBovespa recuou 14%, fechando o mês a R$ 68,95/saca de 60 kg, com uma média mensal de R$ 73,30 — o menor valor real desde outubro de 2024. Em junho, a tendência de baixa continuou, pressionada pela expectativa de oferta elevada, retração dos compradores e limitação na capacidade de armazenagem, além da redução da paridade de exportação com a queda do dólar.
A exportação, inclusive, teve desempenho tímido: foram embarcadas apenas 39,92 mil toneladas em maio/25, contra 413 mil toneladas no mesmo mês do ano passado.
Ainda assim, a demanda interna segue aquecida, com previsão de consumo doméstico de 89,3 milhões de toneladas, cerca de 5 milhões a mais que na safra anterior, segundo a Conab. É mais uma prova de que, mesmo com oscilações no mercado, o milho continua sendo um dos pilares da segurança alimentar e econômica do país.
Ou seja: quando celebramos em volta da fogueira e sentimos o cheiro de milho no ar, estamos, na verdade, celebrando uma potência que sustenta o Brasil — no campo, no prato e no coração.
Amendoim: da roça para o mundo
Outro queridinho de São João é o amendoim. Está nas paçocas, nos pés-de-moleque, no crocante do doce de leite… E nos dados também!
De acordo com a Conab, a safra brasileira de amendoim 2024/25 está estimada em 1,18 milhão de toneladas — um salto de 60% em relação à safra passada. São mais de 280 mil hectares cultivados, com destaque absoluto para São Paulo (que concentra cerca de 90% da produção) e um crescimento expressivo no Mato Grosso do Sul, que deve colher cerca de 95 mil toneladas este ano.
Mas o mais interessante é o movimento que vem acontecendo com o amendoim: ele está saindo da roça para o mundo — com 70% da produção indo para exportação — e também conquistando espaço dentro de casa, pelo seu valor nutricional.
Ele é rico em proteínas (25 a 30 g por 100 g), gorduras boas, fibras, zinco e vitamina E. Tem sido cada vez mais procurado por consumidores que buscam sabor, saúde e sustentabilidade.
Ainda assim, o consumo interno no Brasil ainda é baixo: cerca de 1,1 kg por pessoa/ano, enquanto em países como os Estados Unidos esse número chega a 6 kg, e na China ultrapassa os 13 kg por pessoa/ano. Ou seja: ainda temos muito espaço para crescer.
E estamos prontos para isso. O setor investe em sementes certificadas, controle de aflatoxinas, rastreabilidade e inovação. Até as cascas, que antes eram descartadas, hoje são aproveitadas para produzir bioplásticos e biocombustíveis. Isso é agro com visão de futuro.
Quando a fogueira acende, o agro brilha
Festa junina é, sim, sobre fé, alegria e tradição. Mas também é sobre logística, produção, sustentabilidade, exportação e gestão.
É sobre o produtor que planta o milho com precisão. O cooperado que entrega o amendoim limpo e classificado. O técnico que acompanha de perto a lavoura. O empreendedor rural que transforma o campo com inovação.
Por isso, cada vez que você der uma mordida num curau ou numa paçoca neste mês, lembre-se: você está sentindo o gosto do Brasil que planta, que transforma e que alimenta.
E é isso que me move: mostrar que o agro é mais que produção — é cultura, é emoção, é celebração. Em junho, ele está nas bandeirinhas, no fogão e no coração de quem acredita na força da nossa terra.
Com carinho e orgulho,
Alessandra Decicino, mentora, palestrante e apaixonada por conectar pessoas, gestão e resultados no agro.
Fontes consultadas:
- CEPEA – Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada. Análises de mercado do milho – Maio e Junho/2025. Disponível em: https://www.cepea.esalq.usp.br
- CONAB. Acompanhamento da Safra Brasileira – Grãos, v. 12 – Safra 2024/25 – 9º levantamento. Brasília: Companhia Nacional de Abastecimento, jun. 2025. Disponível em: https://www.conab.gov.br. Acesso em: 13 jun. 2025.
- EMBRAPA. Cadeia produtiva do amendoim no Brasil: desafios e oportunidades. Brasília: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, 2024. Disponível em: https://www.embrapa.br. Acesso em: 13 jun. 2025.
- MAPA. Boletim AgroConjuntural – Culturas de grãos e oleaginosas. Ministério da Agricultura e Pecuária, mai. 2025. Disponível em: https://www.gov.br/agricultura. Acesso em: 13 jun. 2025.
- SEAB/DERAL. Relatórios de acompanhamento da safra de milho no Paraná – Junho/2025.
- SOCIEDADE NACIONAL DE AGRICULTURA. Exportações de amendoim do Brasil aumentaram 40% em três anos. SNA, 4 out. 2023. Disponível em: sna.agr.br.
- UOL Economia. Consumo de amendoim cresce, mas Brasil ainda consome pouco. UOL, abr. 2025. Disponível em: https://economia.uol.com.br. Acesso em: 13 jun. 2025.
- USDA – United States Department of Agriculture. World Agricultural Supply and Demand Estimates – Junho/2025.

Engenheira Agrônoma pela UFG
Especialista em Gestão em Agronegócio pela UFLA
Expertise de mais de 2o anos no setor do Agronegócio